20071217

O Mercosul enfim,tem futuro como região?

Enfim, quais as vantagens da manutenção do Mercosul?
À parte emotivos argumentos pelo pertencimento a zonas de vizinhança com passado de enfrentamentos e criação de culturas comuns, que inclusive não são seriamente considerados como deveriam na exploração de possíveis vantagens competitivas, há argumentos correntes de seus defensores que podem ser resumidos assim:
1. Idéia de manter coesão para ganhar mais em negociações extra-zona
2. aumentar cooperação sul-sul que pode trazer maiores vantagens com parceiros no aumento de trocas industriais, porque os componentes de tecnologias são mais altos do que os fluxos de comércio com países do Norte.
3. A manutenção do poder de negociação dentro da zona aumenta também formação de escalas suficientes para diminuir custos
4. Cria maiores condições de adaptação competitiva e conversões das cadeias produtivas
Um dos textos nesta linha está em
http://www.mercosurabc.com.ar/nota.asp?IdNota=1344&IdSeccion=3
Estes argumentos não se sustentam sem a prática da efetiva abertura intra-zona.
A coesão é mantida hoje não por convergências negociais, mas graças aos movimentos do maior parceiro, o Brasil, e suas iniciativas de busca do mercado internacional - que por sua vez, dependem da confiança quepossa ter nos parceiros internos, nas trocas intra-bloco e diminuição do protecionismo interno, bem como na elevação e diversificação das estruturas produtivas do próprio bloco.A idéia é correta, mas precisa se intensificar tendo por foco os consumidores do Mercosul.O Mercosul tem certamente vantagens em sua manutenção pela construção da institucionalidade alcançada até esse momento e ganhos e benefícios que pode oferecer aos consumidores finais e usuários de serviços por esta integração.É isto que esperam os cidadãos dos quatro países, as associações em diversos níveis, inclusive os movimentos sociais, alguns equivocados e estatizantes, mas outros decididamente ampliadores de genuína sociedade civil. Os argumentos de comercio utilizados em vários momentos como sendo estratégias do Mercosul, são muito frágeis.A cooperação sul-sul é uma extensão da própria cooperação no Mercosul. Como ampliação de negócios que realiza entre si, diversificando pautas e ganhando ainda maiores escalas, com ganhos tecnológicos para realmente buscar maior densidade em complementações tecnológicas com os Estados Unidos ou com a União Européia.
A expressão “negociações com o Norte” é abrangente e bastante estereotipada, desconhecendo inúmeras complementações extremamente vantajosas a serem feitas com países de modernidade complementar que não se caracterizam como superpotências, como o Canadá que está na América. Ou a Austrália e Nova Zelândia. Ou mesmo a Noruega, que está na Europa e não integra a União Européia. A visão de países do “Norte” divide esquematicamente nações colonizadas de modernidade tardia intermediária como Canadá, Nova Zelândia, Austrália, ou as de primeira descolonização com integração nacional, como os Estados Unidos, e sociedades constituídas como antigas nações européias, todos juntos como o “primeiro mundo” - concepção comparativa retrógada, uniforme, homogênea e arcaica da antropologia do desenvolvimento francês da década de 1960, (motivada por entre outros autores como Georges Ballandier).Voltarei oportunamente a este assunto.
Do outro lado estariam os “vitimados” que deveriam formar frentes ex-coloniais em bloco reunindo um suposto “terceiro mundo” alinhando-se pela organização de um sistema econômico diferenciado.A base seria produzir ou não produzir matérias primas em troca de produtos manufaturados.Os anos 1980 e 1990 mostraram a precariedade desta visão, que nunca passou de acerto oportunista para buscar ganhos eventuais de frações de comercio.Ela foi influente durante a guerra fria, como modelo de integrações culturais cruzadas, e se mantém dentro de um cenário hoje modificado pelo acerto de novas atitudes institucionais mundiais que mostram parceiros de alta, média e insuficiente constitucionalidades.Segundo sua história, cultura, construção econômica, formações afins, no paradigma de região. Há grandes probabilidades de acerto em uma complementariedade com a África do Sul, por exemplo, inserida no paradigma do Atlântico sul brasileiro, e interesses contingentes na defesa de acordos com Índia e China - que podem ampliar tecnologias complementares. Mas estes dois últimos não formariam regiões complementares viáveis com o Mercosul.
A mobilidade de capitais no Mercosul é importante.Ela começa a se definir melhor com a estratégia geral sul-americanista, que se concretizou na Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana (IIRSA). O estado do Rio Grande do Sul tem papel importante e estratégico nesta viabilização por constituir o corredor de integrações já mais desenvolvidas e uma cultura institucional que formou o Mercosul desde século XIX.Este espaço já era definido por Celso Furtado como "modelo argentino-paulista", historicamente construido em um longo ciclo de produção de produtos primários (o gado argentino e o café brasileiro) , para exportação à City londrina. Como eixo privilegiado, o estado do Rio Grande do Sul acompanhou esta formação de nações que estiveram em configuração permanente, desde a Questão Cisplatina.
Izabel Mallmann mostra como surgiu a estratégia sul-americanista e como ela tem implementado projetos de infra-estrutura distribuídos em eixos estratégicos contribuindo para reverter a situação de desconexão física da região. Corredores de exportação facilitarão circulação de riquezas, mesmo sendo criticados em alguns círculos, por manter uma divisão de trabalho que teria natureza colonialista. Esta crítica desconsidera outros paradigmas abertos por exemplo pela biotecnologia e genômica de processos na sociedade de conhecimento. O fato é que a abertura para o Pacífico se viabiliza, agora entre o Brasil, Chile e Bolívia.
O texto é Integração regional: instituições e processo, por Maria Izabel Mallmann, Meridiano 47 Boletim de Análise de Conjuntura em Relações Internacionais, outubro 2007, in
Porto Alegre foi sede em agosto de 2007 do VI Congresso Internacional de Rotas de Integração da América do Sul.O Comitê de Rotas é presidido por Joal Teitelbaum ,do Rio Grande do Sul e uma visão de conjunto deste trabalho está em
O Mercosul em resumo, é uma região que se projeta para a América do Sul a partir de seu espaço cultural,econômico e geo-político mais desenvolvido constituido no século XIX - que viabilizou os chamados Estados nacionais-desenvolvimentistas do século XX do Brasil e Argentina e os liberais desenvolvimentistas do Chile e Uruguai. Voltar a eles é impossível, mas ignorar sua gênese traz erro de avaliação em relação ao futuro da América do Sul.