20071218

O comércio cresceu.E a renda?

O comércio cresceu desde a fundação do Mercosul mesmo de modo irregular, mas a abertura não se traduziu em aumento constante e difundido da riqueza média societária, com elevação de prosperidade oriunda desta integração.Ao olhar-se o comportamento das exportações e importações somente do Brasil,dados da Funcex,
Em 1991, as exportações para o Mercosul eram 7.28% do total exportado, e as importações 10.65%. Em 1997, ano em que houve o boom do Mercosul, as exportações eram 17.06%, e as importações 12.61%. Em 2001, começo dos problemas cambiais, as exportações mesmo assim, subiam para 13.28% e as importações 12.61% Finalmente em 2006, começando a reequilibrar após grande crise, eram 10.35%, e 9.81% nas importações. Já as exportações brasileiras para o Nafta, eram em 1991, 23.71% , e em 2006, 23.30%, estabilizadas.Para a União Européia, queda livre de 32.05% em 1991, para 21.85% em 2006.
O Mercosul como um bloco exportou um total geral de 46 bilhões em 1990, antes de entrar efetivamente em funcionamento, chegou a 80.2 bilhões em 1998, ano de grande dinamismo, e alcançou 190.7 bilhões em 2006.As exportações intra-bloco sobre o total, que demonstram sua eventual vitalidade, eram 8.9% do total das exportações em 1990 quando ele não existia de fato, passaram a 25.3% no ponto alto de 1998, e regrediram a 13.52% em 2006.
Isto se revelou em redistribuição de oportunidades para sustentação de negócios internos, renda interna e mobilidade estrutural?
Importantes pesquisas recentes dimensionam alguns resultados desta integração e suas assimetrias.Elas foram feitas pela Rede de Pesquisas do Mercosul, criada em 1998, com sede central em Montevidéu,composta por doze instituições de grande experiência em pesquisa econômica com fundos principais concedidos pelo Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento do Canadá, IDRC / CRDI. (O Canadá está atuando muito próximo ao Mercosul, que quase concluiu um acordo 4+1 com os canadenses, mas houve desacertos. Há inúmeras vantagens para os dois lados. Em 2005, tive oportunidade de mostrar quais eram as áreas e as vantagens em entrevista à Radio Canadá, in
Entre os pesquisadores do Centro estão dois conhecidos economistas brasileiros: Antonio Barros de Castro da UFRJ, e Pedro Luiz Carvalho da Motta Veiga , da FUNCEX.Em 1990, às vésperas do Tratado de Assunção, a renda per capita medida em paridade de poder de compra da Argentina era 6.700 dólares, a do Brasil 5.800, do Paraguai 4.000 e a do Uruguai de 6.600.
Em 2.003, 13 anos depois, com toda sua crise dos anos 2001-2002, a Argentina avançara para 11.700 dólares, o Brasil 7.900, o Paraguai para 4.300 e o Uruguai 9.100.
A Argentina tinha multiplicado sua renda per capita por 1.76 vezes, o Brasil 1.36, o Paraguai 1,07, e o Uruguai 1,52. Isto significa que a renda per capita argentina, que era no início 1.15 vezes a brasileira, aumentou para 1.48 vezes.A do Uruguai, que era 1.13 vezes, aumentou ligeiramente para 1.15 vezes.
Medida em termos relativos, a integração rigorosamente tem beneficiado a Argentina, e a integração tem uma economia com o paradigma de economia do produtor, ao invés de economia do consumidor.

Quando ganha o consumidor, ganham todos, inclusive e principalmente os trabalhadores urbanos, que são consumidores e necessitam de produtos mais baratos para modificarem sua inserção social, melhorando poder aquisitivo e diversificando habitos educacionais.
Já vemos porquê o Mercosul se transformou em uma economia de oferta subsidiada: se a multiplicação argentina foi maior, o Brasil teve grande vantagem com a integração pela liberalização tarifária. Com a queda de barreiras, os setores produtores de bens de alta tecnologia, com maior valor agregado, ganharam espaço de exportação dentro do bloco que não teriam fora dele.Estes setores, justamente, também concentraram renda e polarizaram regiões, e também por isto, a integração não conseguiu reduzir desequilíbrios de renda e desenvolvimento que não atingem só os países menores do bloco - Paraguai e Uruguai - mas regiões inteiras do Brasil e da Argentina, que até agora não foram beneficiadas pelo união aduaneira incompleta entre os quatro países. Esta discrepância não se reduziu e se foi ampliando ao longo dos anos, apesar do crescimento econômico dos países.O trabalho em questão é Asimetrías em el Mercosur.Un enfoque econômico y de bienestar. Por Juan Cresta Arías. Economista del Centro de Análisis y Difusión de la Economia Paraguaya – Cadep, in
A solução seria priorizar crescimento de bens de consumo tradicional e corrente em detrimento da aceleração de bens com densidade tecnológica? Claro que esta solução luddita está longe da que viria a proporcionar bem estar pela integração.O crescimento da adoção de novas tecnologias é poupador de mão de obra, concentrador de plantas e convergente em regiões já instaladas mas também favorece melhores níveis educacionais no seu conjunto, desde que secundado pela abertura decidida de barreiras comerciais em setores tradicionais para oportunizar elevação e integração de cadeias de comércio onde se dão ajustes e especializações dinâmicas, beneficiando o conjunto e principalmente aos consumidores – que dispõem de mais renda discricionária, aumentando inclusive a arrecadação tributária.
Ao mesmo tempo, a abertura de cadeias menos especializadas proporciona a contribuição das menores à agregação de valor ao PIB, ao contrário do que ocorre hoje - em que a reespecialização fica brecada pelo bloqueio comercial.Há fatores considerados “retardados” de crescimento e fatores considerados ”aceleradores” de crescimento.Embora a carência de estudos no setor, é bem presumível que radiquem em estagnação cultural, política, institucional, nas regiões onde penetra o avanço técnico.São as conhecidas reformas estruturais necessárias - tributária, educacional, política, gerencial do setor público, entre outras.Elas intensificam formação de capital social e formidável crescimento de capital humano ao invés de conflitos continuados entre classes.
Embora os integrantes do bloco falem genéricamente sobre sua necessidade não a implantam, preferindo continuar com políticas de subsídios, formas conhecidas de manter baixa produtividade. A Argentina, o Uruguai e o Paraguai começaram a importar do Brasil máquinas e equipamentos que antes eram importados de outros países, porque ficou mais barato.O estudo mostra que no período analisado – desde o início da década de 1990 até 2003 - o Brasil apresentou melhoras competitivas em vários setores industriais, especialmente químicos, maquinaria elétrica e não-elétrica, equipamentos de transporte, profissionais e científicos. Os países menores ganharam competitivamente nos setores industriais de tecnologia baixa (como têxtil, confecções e calçados) e manufatura de recursos naturais (tabaco, bebidas e alimentos, entre outros). O Paraguai, embora mais atrasado industrialmente, está exportando muito mais produtos industriais, como roupas, tecidos, alimentos processados, bebidas, manufaturas de couro e madeira", diz o economista.Os modelos dividiram o Mercosul em regiões econômicas. Ficou claro que brechas de desenvolvimento entre as regiões começaram a diminuir entre 1991 e 1995, mas desde então voltaram a alargar-se. As regiões que mais ganharam com a integração estão na Argentina (Patagônia, no extremo sul, Pampa, no centro, região de pecuária, e a Grande Buenos Aires) e as que mais perderam são o Norte e o Nordeste do Brasil e o Paraguai.O economista Fernando Masi, diretor do Cadep e coordenador do estudo, ex- secretário de política econômica do Ministério da Economia do Paraguai entre 2003 e 2004, participou da equipe que implementou o Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem).O fato do Brasil ter se beneficiado das liberalizações não adiantou para passar à frente em renda per capita, em parte pela enorme dispersão e heterogeneidade do seu mercado – algo que os vizinhos não apresentam.Os indicadores sociais da Argentina e do Uruguai sempre foram e continuam sendo melhores que os do Brasil. Regiões que já detinham fatores como produtividade, competitividade, localização geográfica, institucionalidade conseguiram aproveitar melhor a liberalização tarifária.Assim, as que mais ganharam com o Mercosul foram as mais ricas da Argentina, enquanto o Sul e o Sudeste do Brasil e o Uruguai também ganharam, porém menos.As regiões que nunca reuniram condições de vantagem comparativa foram ficando para trás, como o Norte e o Nordeste do Brasil e o Paraguai.É preciso implementar condições competitivas nestas regiões.

Um importante trabalho confirmando vantagens da abertura como efeito multiplicador
O IPEA trouxe um estudo em 2003 sobre Aspectos microeconômicos do Mercosul: uma abordagem sobre o desempenho das empresas brasileiras, texto n° 982 Sérvulo Vicente Moreira / Brasília, 2003, 62 p.O estudo examinou vários desempenhos, mas principalmente educação e renda a partir da abertura exportadora, nas empresas brasileiras.
As conclusões enfatizam alguns aspectos muito interessantes da abertura.
A escolaridade dos funcionários das empresas exportadoras definitivamente aumentou. As diferenças mais representativas ocorridas na década de 1990 foram na categoria quarta série incompleta, que representava 22,34% no início da década e caiu para 10,48% em 2000, e no segundo grau completo, que em 1991 representava 9,89% dos funcionários das exportadoras brasileiras para o Mercosul e que em 2000 chegou a 23,77%.Isto se traduziu em aumento da remuneração média. A remuneração média dos funcionários das empresas exportadoras para o Mercosul(expressas em valores reais) apresentou aumento do valor real recebido por esses trabalhadores entre 1991 e 2000, com incremento de 5,49%.A região Sudeste tem os funcionários com mais alta remuneração – exceto em 1992 e 1994, quando a região Norte teve melhores remunerações – e pouca volatilidade na década, assim como a região Sul. Na região Norte ocorreram as maiores variações, destacando-se como a segunda melhor pagadora em grande parte da década de 1990.Um trecho é especialmente significativo:

“(..) a participação de novas empresas exportadoras brasileiras vem aumentando num ritmo crescente, o que demonstra, em primeira instância, o incremento da produção interna para atender à nova demanda do bloco integracionista, bem como um fluxo comercial ascendente no mercado regional, em segunda instância. (grifo meu) ...pode-se inferir que tal fato influenciou positivamente a economia doméstica e as dos países da região.O incremento no número das empresas brasileiras exportadoras para o mercado regional aponta para alterações na economia doméstica no que concerne ao melhor uso de recursos naturais e de insumos importados do país, à geração de empregos e demanda por mão-de-obra especializada, ao uso intensivo de tecnologias mais diversificadas, à geração de renda, à ampliação de mercado e à melhoria na qualidade de vida da população, tal como prevê a teoria da integração.Outro aspecto a ser destacado refere-se à expansão ou implantação de empresas exportadoras para o Mercosul. Nos municípios brasileiros onde isso aconteceu, ocorreram benéficas mudanças na economia local, elevando sobretudo o nível de instrução dos empregados dessas empresas, com repercussões positivas nos salários, salvo algumas exceções.(grifo meu).
Os incrementos das vendas no Mercosul repercutiram diretamente no aprimoramento do nível instrucional do país, e o fato está relacionado com as novas tecnologias que estão se fazendo necessárias para o processo produtivo. Isso implicará um processo de absorção tecnológica por parte dos países membros, o que vem sobretudo beneficiar as economias da região.Ainda mais um aspecto a ser ressaltado é o fato de que, no caso do Mercosul, por ser uma integração regional em terras contínuas, o transporte é um facilitador para as empresas exportadoras. Estas não incorrem em custos como transporte marítimo, armazenagem, representações, alguns tributos, burocracia alfandegária, etc., como quando exportam para outros continentes.Com a expansão gradual do comércio no âmbito do Mercosul, verificam-se tendências para modificações estruturais nos países que o compõem, desde a logística até o maior uso de tecnologia no setor produtivo, o que repercute diretamente sobre a qualidade de vida da população da região.Deve ser destacado ainda o aprimoramento contínuo da mão-de-obra das empresas exportadoras para o Mercosul, em razão do incremento do nível tecnológico, acarretando melhorias no valor agregado dos exportados. Esse incremento do conteúdo tecnológico dos exportados, considerando-se o uso intensivo de fatores de produção nacionais e insumos importados, gera mais riqueza para o país, alcançando assim um dos objetivos da integração, que é a melhoria da qualidade de vida da população. Este trabalho permite vários desdobramentos - desde estudos sobre a parte social e sobre formação de clusters industriais, até o uso de instrumentos de promoção de exportações - que deverão ser estudados em futuras pesquisas."

A íntegra do trabalho, in
http://www.ipea.gov.br/pub/td/2003/td_0982.pdf