20071122

A GRANDE DOUTRINA OSWALDO ARANHA. DO BRASIL, PARA AS AMÉRICAS E O MUNDO

Os processos americanos têm doutrinas diferenciadas e ainda confusas. As que supõem uma América unida de forma "latina" e que aparentemente são sedutoras porque visualizam suposta unidade e dão sentido de cultura comum, muito pelo contrário, organizam uma memória do colonizador francês, que primeiro propôs esta designação através de Napoleão III e seu consultor Michelet no século XIX, em conflito aberto com a Inglaterra, e logo depois os Estados Unidos. Visava Napoleão na época, assenhorar-se de um super-protetorado ao sul, especializando as nascentes nações ibéricas e aproveitando de ressentimentos que porventura tivessem contra trocas comerciais com a Inglaterra.O latinismo, em verdade, é uma mistura de idéias difusas e algumas incoerentes que vinculam o direito de origem romana, a lingua que tem sincretismos entre o árabe e o latim no caso da peninsula ibérica, e a religião majoritáriamente católica, embora também com forte sincretismo ( a península recebeu durante oito séculos os judeus, árabes e cristãos). Isto supostamente deveria ser conciliado com os hábitos gauleses. No século XIX, houve forte romantismo em torno do latim, adicionado por Rodó, no Uruguai.Via-se as comunidades latinas de forma estereotipada contra o empirismo, como dotadas de uma espiritualidade "superior", quase uma aristocracia do espírito que os anglo-saxões não teriam, dedicados ao utilitarismo e à comercialização. Há jurisprudência internacional hoje que se firma cada vez mais em torno de aceitar toda a região como portadora de um ascendência majoritária e doutrinas eminentemente ibéricas.
Este paradigma ibérico tornou-se americano, em configuração e relação nas Américas, que são diferentes nas suas migrações, contendo vários niveis de integração com outras culturas, inclusive evidentemente com as neo-latinas. A sociedade civil se amplia com isto e gera recursos institucionais mais abertos.
O jornal "Zero Hora", da "Rede Brasil Sul de Comunicações", publicou um artigo de minha autoria sobre o maior chanceler que o Brasil teve em todos os tempos, igualmente formulador da mais completa doutrina de Relações Internacionais que o País já teve. O Pan-americanismo inclusivo significou para Oswaldo Aranha, o grande estadista, ampliar a participação não só do Brasil, mas de todas as Américas no projeto mundial.Este projeto tinha convergência com o que se esboçava no Canadá à época, e Aranha o conhecia.
Para o País, confirmou a visão de sua dimensão no Atlântico Sul pela sua projeção histórica na costa africana e sua relação de solidariedade com a Argentina desde 1941, em meio a um mundo renovado do pós eurocentrismo e pós-colonialismo. Quando formuladores sugerem uma nova abordagem, muito influenciados por iniciativas independentes como a de Santiago Dantas, estão só confirmando de modo limitado o que o grande esquadrinhador já havia sinalizado desde 1938.
Sua atuação nas Nações Unidas multidimensionou tanto o apoio a israelenses que necessitavam de seu território e já na época uma partilha para os árabes palestinos, como a recusa depois a acompanhar decisões lobbistas das grandes potências como a Grã Bretanha, que desejavam aumentar seu número de votos no Conselho de Segurança, ao incluir a Índia. Foi a projeção de uma conduta que desejava e ressaltava para o Brasil como aliado grande e forte dos Estados Unidos nas Américas, visando redefinir investimentos para a América do Sul - tornando toda a região uma nova área estratégica no tabuleiro mundial.E atenção: não era só o Brasil que tinha no seu monitor.Via a Argentina como parceiro que se beneficiaria por efeito cumulativo.
Aqueles que acham que encontram grandes inovações alternativas no momento apenas reiteram, de modo menos eficiente, o que o grande mestre já havia difundido quando em 1938, em meio ao Estado Novo, discordando em quase tudo da ditadura, de modo paciente e grave, sentou-se em sua sala no Itamaraty, disse que iria esquecer o resto e apenas ser leal a Rio Branco e ampliá-lo, visando ser leal ao País.Formulou uma doutrina de abrangência inédita, que continua influenciando o século XXI.
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